De Bragança a Lisboa são nove horas de distância….a canção dos Xutos e Pontapés não deixa ninguém indiferente atravessando, inclusivamente, gerações. E de Vila Real de Santo António a Sagres? As duas estão separadas por aproximadamente 160 km e para chegar da ponta mais a oeste do Algarve à ponta este são necessárias duas horas de viagem. Mas poderiam ser menos se o Algarve estivesse dotado de uma boa rede de transportes alternativos, o que não se verifica. As pessoas têm, na sua maioria, de utilizar o carro próprio para trabalhar, levar os filhos à escola ou realizar outras tarefas. As acusações partiram do presidente da Câmara Municipal de Lagoa, o único autarca do Algarve convidado a participar no Lisbon MOBI Summit que decorreu entre 13 e 16 de Setembro. Francisco Martins falava no âmbito do workshop sobre “Mobilidade Local, Visão Global” acrescentando “No Algarve estamos obrigatoriamente condenados ao transporte próprio”, “não temos efetiva alternativa que não seja o nosso próprio carro”. adiantou Francisco Martins. “Muito do que ouvi aqui é para a realidade de Lisboa”, disse o autarca. “Acontece que quando vão ao Algarve no verão, as pessoas que moram na capital vão encontrar uma realidade diferente.” E se, em Lisboa, o transporte público é uma alternativa amiga do ambiente e da economia familiar, esse transforma-se num panorama-miragem se estivermos a falar do extremo sul do país. “O Algarve tem, de Sagres e Vila Real de Santo António, sensivelmente 160 quilómetros. Se quiser deslocar-me entre o eixo económico principal da região, situado entre Portimão e Faro para percorrer os 60 quilómetros que distam entre si, de comboio ou de autocarro, isso tomar-me-á duas horas; de carro, pela EN 125, hora e meia”. Estes são, para o autarca, “constrangimentos” decorrentes “de um desinvestimento que foi feito ao longo de muitos e muitos anos”.
“Ainda estamos muito longe da realidade de que estamos aqui a falar”, referiu ainda Francisco Martins, recordando o projeto MOBI.E, uma rede de carregamento inteligente existente em algumas cidades piloto e que utiliza energia elétrica proveniente essencialmente de fontes renováveis para o abastecimento de veículos elétricos em qualquer ponto da rede nacional. “O projeto começou com a intenção de ter dois carregadores por concelho, depois passou para um e hoje não há nenhum”. Francisco Martins apela por isso à classe política que olhe para resto do mapa no que toca ao tema da mobilidade.
O edil mencionou ainda a importância de um maior investimento nesta área numa região que, para além de acolher dois milhões de pessoas no verão (superando largamente o seu número de habitantes: os 450 mil), “faz fronteira com Espanha, o que lhe garante uma proximidade extraordinária com a Andaluzia.” E este é, para o autarca, um ponto atrativo para “empresas que estão á procura do seu cliente” e que poderão passar a encarar o Algarve “como um importante fator de investimento”
O evento constituirá um momento de reflexão em torno de uma nova cultura de mobilidade e abordará assuntos como a automação, a eletrificação e a conectividade da indústria da mobilidade: dos carros elétricos às redes inteligentes, da gestão do tráfego nas cidades às viagens partilhadas, das viaturas autónomas aos jogos de realidade virtual, passando pela descarbonização do sistema de transportes.